Na última sexta-feira (08), cerca de 100 agricultoras e
agricultores familiares dos 12 municípios da Paraíba que constituem do
território do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar, além
de técnicas e técnicos da Entidade de Assessoria - Patac, se reuniram em
Soledade para um encontro de formação. O evento ocorreu pela manhã, em ocasião
do ‘08 de março (8M) Dia Internacional da Mulher’, no qual os/as participantes refletiram
sobre o marco histórico que esse dia representa para a luta das mulheres, no
campo e na cidade e a partir disso, celebraram as lutas e resistência das
mulheres camponesas.
Um momento inicial trouxe a memória das mulheres que morreram
durante à luta por igualdade de gênero e também pela justa divisão sexual do
trabalho. Um vídeo foi exibido explicando
as razões pelas quais o 8M não pode ser um dia apenas de homenagens, mas
precisa trazer para o centro das discussões as questões ainda não superadas
entre homens e mulheres, tanto no universo do trabalho, como nas relações
afetivas, o que tem gerado os altos índices de violência contra à mulher,
culminando em assassinatos (Feminicídios) , tanto por seus companheiros quanto por
outras questões desencadeadas pelo machismo.
Para a Glória Araújo, coordenadora do Patac e membro da
Coordenação Executiva da Asa Paraíba e da Asa Brasil, “a consolidação da
agroecologia se faz considerando e dando visibilidade ao papel das agricultoras
camponesas, porém não é só isso, é fundamental atuar na perspectiva da divisão
justa do trabalho doméstico e do cuidado, bem como combater e denunciar as
diversas formas de violência contra as mulheres. Quanto mais se debate sobre a
importância do trabalho das mulheres e o combate à violência, mais estamos
caminhando para a superação das desigualdades e consequentemente para o fim da
violência, fazendo assim avançar a agroecologia com justiça social."
Foram debatidas as diversas formas de violência contra as
mulheres, desde a violência doméstica até às práticas de opressão que ocorrem
todos os dias. As próprias mulheres expuseram seus dilemas e conflitos, bem
como as superações obtidas ao longo de suas trajetórias de vida, desde a
infância até a idade adulta, quando essa violência se apresenta dentro de casa
e fora dela.
A liderança Cássia Cardoso, de Juazeirinho, destacou que os
processos mobilizadores dos programas de acesso água, são exemplos de
organização das mulheres como alternativa para fortalecimento da defesa dos
direitos femininos. “Essas alternativas
vêm desde os cursos, quando tratamos sobre as questões de gênero nos Gestão de Recursos
Hídricos (GRH) e Gestão da Agua para Produção de Alimentos (GAPAS). A
agricultora ainda destacou que ela própria é fruto do trabalho que vem
sendo feito em defesa da importância das mulheres e a convivência com o
Semiárido.
Betânia Buriti, agricultora que faz parte da coordenação do
Coletivo, destacou que o território tem
ampliando espaços de discussões quem vem fortalecendo o trabalho das
mulheres e o enfrentamento da violência, ela citou a formação de um grupo de animação dos temas relacionados as
mulheres, e reforçou que a construção desse espaço vem sendo fortalecido a cada
ano e que essas ações vem acontecendo de forma a ajudar essas mulheres a
identificarem suas histórias e a buscarem alternativas entre elas mesmas,
através da escuta, do fortalecimento de ações que possibilitem autonomia e
no encaminhamento aos serviços especializados
de assistência à mulher.
Ela ainda fez o lançamento do Calendário Anual 2019 do
Coletivo e do Patac, que traz como tema “Mulheres Camponesas e Agroecologia: ‘O
Esperançar por um Semiárido mais Justo’ que tem um importante papel na
estratégia de comunicação dessas organizações, trazendo para o centro do debate
político as mulheres camponesas deste território de atuação da Articulação do
Semiárido.
Na ocasião também foi lançada a 10ª Marcha pela Vida das
Mulheres e pela Agroecologia, do Polo Sindical da Borborema, para o público daquele território, onde a
jovem Petrucia Nunes, também da Coordenação do Coletivo, explicou os motivos
pelos quais a Marcha é importante para agricultoras e agricultores, dizendo que
a atividade, tem o duplo objetivo de dar visibilidade ao papel das mulheres
camponesas na construção da agricultura familiar agroecológica e de denunciar
todas as formas de violência contra a mulher.
Na edição de 2019 a Marcha acontece na cidade de Remígio – PB
e esse ano, traz o enfoque das mulheres negras. O evento acontece no dia 14 de
março, data do assassinato da vereadora Marielle Franco, ocorrido no ano
passado (2018). Um crime que até hoje não foi esclarecido.
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