De forma festiva e através de diversas
expressões populares (Ato Público, apresentações culturais e reflexões
políticas) a 8ª Festa Estadual das Sementes da Paixão foi encerrada na tarde da
sexta-feira (07), no município de Soledade-PB, Cariri Paraibano com a presença
de mais 1.200 pessoas. Com o tema “Comunidades Guardiãs: Protegendo a
Biodiversidade e Garantindo Alimentação Saudável” o evento foi realizado na
região do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar,
território de atuação da entidade de assessoria à Agricultura Familiar de base agroecológica
- Patac. As duas organizações integram a
Articulação do Semiárido Paraibano (ASA Paraíba).
A atividade começou na quarta-feira,
dia 05 e se estendeu até a sexta, 07, reunindo centenas de agricultoras e
agricultores familiares em mesas de diálogo, oficinas temáticas, feira de
sabores e saberes e atividades culturais.
O marco final e culminância do
evento se deu na sexta - feira (07), quando
um grande ato público foi realizado nas ruas de Soledade, onde os participantes
do evento, puderam caminhar e dialogar com o público
urbano sobre as lutas enfrentadas em relação as Sementes da Paixão e
a contaminação por transgênicos nos territórios e também sobre as questões
da atual conjuntura política, as perdas de direitos através da reforma previdência,
os cortes na educação e as questões de gênero.
Um toré puxado pelos
representantes dos povos indígenas das tribos paraibanas Potiguara e Tabajara,
representados pelos caciques Jessé Potiguara e Paulo Tabajara, trouxe a luta e
a resistência dos diversos povos do Semiárido como algo sagrado, o toré foi
dançado pelos participantes do ato. Em seguida, o GT de Juventude da ASA
Paraíba realizou uma intervenção, uma grande faixa foi estendida no meio do
povo, onde estavam o mapa da Paraíba e a frase “Paraíba livre de transgênicos e
Agrotóxicos”, a frase foi puxada como grito de ordem até o encerramento do ato
no Clube recreativo, local da festa.
No retorno à plenária final, foi
realizado o lançamento estadual da Campanha “Não Planto Transgênicos para Não
Apagar a Minha História”. Criada pelo Polo da Borborema, uma das dinâmicas
microrregionais que integram a ASA na Paraíba, a Campanha entra em uma nova
fase em âmbito estadual e pretende esclarecer as famílias agricultoras sobre
como evitar a contaminação de suas sementes, principalmente as de milho, que
devido a polinização aberta, é de fácil contaminação, bem como divulgar os
riscos que os transgênicos trazem não só para a saúde humana, mas também para a
erosão genética da biodiversidade. Após o ato de lançamento, foi oferecida a
degustação de uma variedade de alimentos produzidos com milho NÃO transgênico,
como broas, bolos e biscoitos, que já pode ser encontrado nas feiras
agroecológicas na forma de farelo, cuscuz, mungunzá e xerém.
Na plenária final, como
encaminhamento político foi lida a Carta Política do evento diante de uma mesa
de representantes do Governo do Estado, da Secretaria Estadual de Agricultura
Familiar e Desenvolvimento do Semiárido, da Secretaria Estadual Executiva de
Segurança Alimentar e Economia Solidária, da Frente Parlamentar da Água e da
Agricultura Familiar da Assembleia Legislativa, de representantes da
Articulação do Semiárido Brasileiro – ASA Brasil, do Conselho Estadual de Segurança Alimentar e
Nutricional (Consea) - PB, e na presença dos representantes dos povos tradicionais, o documento afirma que: “Comunidades
guardiãs são as verdadeiras trincheiras de luta e de afirmação do papel
histórico exercido por agricultoras a agricultores na defesa e proteção dos
recursos da biodiversidade, da água e da terra”. O documento continua:
“Afirmamos que esses recursos são bens comuns que, manejados e conservados
pelas mãos das comunidades, se convertem na produção de alimentos fartos,
seguros, diversificados e saudáveis”.
Naidson Quintela, da Coordenação
Nacional da ASA Brasil, em sua fala, lembrou os 15 anos de trajetória das
Festas das Sementes da Paixão na Paraíba e falou sobre a conjuntura política
atual: “A última eleição na Paraíba foi de resistência, vocês escolheram aqui
os representantes que vão garantir a vida e não a morte”, disse se referindo ao
Governo Federal atual que liberou em seis meses quase 200 novos agrotóxicos no
país e continuou: “O recado que a ASA Brasil tem para dar aqui hoje é, não
abram mão, continuem brigando, celebrando, festejando e guardando sementes. O
governo estadual que vocês elegeram tem a obrigação de dar suporte a esse
trabalho, assim como o governo da Bahia que instituiu uma política estadual de
agroecologia”.
Durante a Festa, foram realizados
gratuitamente testes de transgênia adquiridos pela organização do evento. Os
testes funcionam de forma semelhante a um teste de gravidez, com tiras
sensíveis à sete tipos de proteínas transgênicas. Para aqueles que tinham seus
testes com resultado negativo para a contaminação, era entregue um certificado
de Livre de Transgênicos. Maria das Dores Medeiros, do Sítio Capoeiras, em
Cubati-PB, conta do alívio que sentiu ao descobrir que havia conseguido
recuperar suas sementes: “Fizemos o teste aqui e deu negativo, essa era uma
semente que já havia dado contaminada, mas através do banco de sementes, a
gente conseguiu recuperar e manter livre da contaminação, então eu fiquei muito
feliz e aliviada de ter de volta meu milho da paixão”.
A Rede de Sementes da ASA Paraíba
promove há 15 anos as festas, com um intervalo de dois anos entre uma edição e
outra. As festas cumprem o duplo papel de celebrar o trabalho das centenas de
guardiãs e guardiões das sementes e de denunciar as ameaças à preservação deste
patrimônio genético e cultural da humanidade.
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