5 de setembro de 2012

Reflexos do conflito Agricultura Familiar X Agronegócio no semiárido paraibano

Durante os dias 28 e 29 de agosto, agricultores e agricultoras das regiões do Coletivo Regional das Organizações da Agricultura Familiar do Cariri, Curimataú e Seridó Paraibano, estiveram presentes no I Seminário Regional da Criação Animal, no município de Lagoa Seca-PB.

Durante os dois dias, os participantes discutiram sobre as principais ameaças da agricultura familiar agroecológica que vem se intensificando no interior do estado e os desafios para permanecer em resistência, preservando a história e a cultura das comunidades tradicionais. Rosimare Alves, agricultora representante da comunidade Canoa de Dentro, em Pedra Lavrada, afirma: “Hoje não temos mais os animais que antes a gente tinha, e a grande preocupação nossa é que a gente valorize mais as raças que a gente ainda tem e também multiplicar. Porque se for deixar que venham outras raças de fora para tomar o espaço, a gente sabe que a nossa agricultura não vai mais ser uma agricultura saudável e uma agricultura sustentável como a que gente tinha há vinte anos”.

No encontro, foram apresentadas algumas experiências familiares que estão no caminho para a transição agroecológica, como também experiências que estão dialogando com o sistema produtivo da indústria de granjas na região. As exposições contribuíram para a comparação e avaliação do atual contexto encontrado nas diversas regiões do semiárido paraibano.

“Eu trouxe a apresentação da propriedade de minha família mostrando que a agricultura familiar é viável para nossa região e que a gente vive muito bem se a gente souber aproveitar o que tem de importante dentro da nossa propriedade” comenta Danilo Rodrigues, um jovem agricultor da comunidade Malhada de Areia, município de Olivedos-PB.

Com a chegada da avicultura industrial nas pequenas propriedades da agricultura familiar, os agricultores começam a se sentir ameaçados com o risco de competitividade e com os demais reflexos desse sistema. É o que reafirma Danilo, em uma de suas falas: “Se a gente for avaliar o que ameaça mais a agricultura familiar é a chegada dessas empresas, dessas indústrias de frango, porque isso vai prejudicando principalmente a parte da comercialização... com a participação dessas empresas eles começam a exigir mais e quem acaba perdendo é a gente”.

José Waldir, representante do Patac (ONG que presta assessoria ao Coletivo Regional), apresenta um retrato de como agricultores familiares camponeses resistem às ameaças do agronegócio, em especial a chegada da avicultura industrial: “Do ponto de vista social, econômico, ambiental e também da própria relação de trabalho, temos refletido com certa preocupação algumas relações. Primeiro a avicultura está se expressando muito fortemente em áreas na região que coincidentemente são áreas historicamente de roçado. Exige das famílias um endividamento grande junto aos bancos para poder garantir uma estrutura que tenha uma determinada padronização. Além disso, o próprio envolvimento da família no trabalho que deixa de ser na lógica da agricultura familiar e passa a ter uma ação exclusiva de cuidar desses galpões de aves, sem contar a falta de vínculos dessas empresas para com as famílias. O investimento que essas famílias fazem é em risco das famílias, galpões de 170 a 200 mil reais. A forma de trabalho não tem perspectiva de salário, décimo terceiro, férias, não tem garantia alguma”.

As famílias convivem, em seu cotidiano, com frequentes ameaças. Além de se desafiarem a superar as adversidades das condições naturais da região, as famílias agricultoras vivem em constante enfrentamento da intensificação das ações do agronegócio na região.

“Além da avicultura, também identificamos o uso intensivo de agrotóxicos, seja para plantio mais intenso e irrigações nas pequenas e médias empresas, seja pra criação de animais também especializado na produção de leite, como carrapaticidas e outros a própria modificação na raça, na genética dos animais com alta capacidade de produção de leite, seja a bovinocultura ou a caprinocultura. Então, são várias expressões do agronegócio que estão presentes. Então são assim as ameaças mais gerais que aparecem e que trazem algumas consequências, entre elas, por exemplo, a concentração da terra, há indícios claros de reagrupamento de algumas propriedades que haviam sido fracionadas, o que vem tornando algumas regiões em latifúndios”, complementa Waldir.

Ao final do encontro, os agricultores e agricultoras presentes, reafirmaram a necessidade de dar continuidade ao processo de formação política e técnica que vem sendo implementado desde a composição e articulação do Coletivo Regional. E principalmente a necessidade de fortalecer os processos de transição agroecológica que vem sendo desenvolvidos pelas famílias agricultoras que compõem essa articulação e permanecem com força e resistência no semiárido paraibano.



Patrícia Ribeiro - comunicadora popular da ASA
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