16 de outubro de 2015

Conjunto de Oficinas temáticas integra as atividades de formação da VI Festa Estadual das Sementes da Paixão

Como parte integrante das atividades da VI Festa Estadual das Sementes da Paixão, ocorreu na manhã de quinta-feira (15), diversas oficinas temáticas, no sentido de ampliar a formação das famílias agricultoras e definir orientações para o melhoramento do trabalho dos Bancos de Sementes Comunitários.
No total foram sete oficinas sobre: Gestão, Organização e Armazenamento das sementes nos Bancos de Sementes Comunitários (BSC); Integrando as sementes florestais e frutíferas nos BSC; Produção, Seleção das Sementes; Sementes dos animais; Produção das sementes de hortaliças; Beneficiamento de frutas nativas e adaptadas e Bancos de Germoplasma.
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Cada oficina contou com a apresentação de uma experiência local e uma experiência vinda de fora. A exemplo da Oficina “Integrando as sementes florestais e frutíferas nos BSC” Com o objetivo de socializar conhecimentos de manejo, plantio, colheita, armazenamento das sementes florestais e frutíferas, jovens coletores de sementes florestais da região do Polo da Borborema na Paraíba e integrantes do Povo Xucurus do Ororubá do Estado de Pernambuco, compartilharam suas experiências.
Criada em 2010, a rede de viveiros do Polo da Borborema tem hoje nove viveiros ativos. “Estes viveiros facilitam o acesso das famílias agricultoras às sementes para o reflorestamento de suas propriedades e para toda a comunidade” afirma Monica Lourenço, jovem coletora integrante da rede.  A jovem afirma que a partir da identificação de municípios onde já não existia determinada espécie de planta, perceberam a necessidade de criar a rede de coletores.
“A rede de coletores foi criada em 2012, com a participação dos jovens. No começo o grupo não sabia a época de coletar ou como coletar. Foi a partir daí que pensamos em uma cartilha de calendário de coleta e construímos ela a partir das experiências de cada município. A juventude se reúne periodicamente e faz a coleta. Após a coleta, as sementes são encaminhadas para os viveiros. Atualmente já tem jovem adquirindo uma renda extra comercializando as mudas cultivadas”, explicou Mônica, moradora do Assentamento Caiana em Massaranduba.
A agricultora coletora Josefa Miranda dos Santos também deixou seu depoimento durante a oficina: “Sou coletora de sementes. Faço reflorestamento no meu sítio, tenho uma matinha e cerca viva. Eu planto espécies nativas. Esse trabalho de coleta é muito importante, porque lá na mata talvez tenha uma árvore que esteja em extinção e você vai colher, repassar pra outros agricultores que podem plantar em suas propriedades. Então a gente ta preservando a natureza, as árvores, mas vai chegar um tempo que nossos netos e bisnetos não terão a oportunidade de conhecer. Temos que preservar a natureza e a flora, pois você vê que tem muito desmate. Vamos dar as mãos e vamos abraçar essa causa que é muito importante. Vamos dar vida à mãe terra, pois ela ta precisando muito da gente”, disse dona Josefa.
Ressaltando a importância do princípio da espiritualidade e reconexão com a natureza os Povos Xucurus iniciaram sua apresentação com um toré. Nele uma frase se destaca “Quem quiser ver a ciência, vai na mata procurar… Achei um castelo de ouro, lá na mata de Orubá”.
De forma resumida, os indígenas expressaram um pouco de seus conhecimentos, mas deixado sempre uma provocação ao fundo. Segundo ele, para avançarmos enquanto sociedade, enquanto ciência, precisamos nos reconectar com nossa espiritualidade, ou seja, com nossa própria natureza: “O povo é um território que não é só físico, é político e espiritual. A espiritualidade é a base de tudo. Esse conjunto de conhecimento vem desse dialogo com a natureza. É outro tempo é outra compreensão é outra forma de agir, esse mundo dos encantados é que orienta e referenda. Precisamos estar sempre em contato com esses outros seres”, afirmou Iram Xucuru, integrante do grupo.
O povo Xucuru habita a Serra de Ororubá, no município de Pesqueira, Pernambuco. Atualmente estão em aproximadamente 15 mil pessoas. Iram, falou ainda sobre a luta de seu povo pelo reconhecimento dos seus direitos, enquanto indígenas, agricultores e humanos. “As politicas públicas ignoram as diversidades, generalizam tudo e todos, sem considerar o contexto histórico de cada povo, esvaziando a cultura e os conhecimentos históricos de cada povo. Precisamos fortalecer e cultivar esses conhecimentos”, disse Iram.
Entre as lições transmitidas durante a oficina destacaram-se: A importância do trabalho em rede, com o olhar para as demandas que compõe o território; a conservação das sementes florestais e frutíferas; a valorização da troca e conhecimentos. O grupo ainda se comprometeu em analisar os impactos que estamos causando na natureza, com o desmatamento e descarte de materiais; ampliar a capacidade de estoque de sementes para integrar as sementes florestais e frutíferas nos Bancos de Sementes Comunitários; como ainda, melhorar a forma de armazenamento das sementes, além de outros compromissos.
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Socialização – No início da tarde, uma dupla de representantes de cada oficina apresentou os resultados das discussões ocorridas na parte da manhã. Um dos principais elementos que se repetiu na maioria das discussões foi a importância do papel das mulheres e jovens na conservação das sementes da paixão, seja esta a semente animal, das plantas medicinais, das sementes de plantio, frutíferas ou florestais, dos conhecimentos e da cultura camponesa.
Além disso, o compromisso marcado por todos foi reafirmado no fim das apresentações, dar continuidade aos processos de fortalecimento das ações que estão sendo desenvolvidas na perspectiva de resistência e da vida no semiárido.
Por fim, a palavra de ordem que ecoou na plenária foi a seguinte: “É no Semiárido que a vida pulsa! É no Semiárido que as Sementes Resistem!”.

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