24 de março de 2011

Marcha reúne 1,5 mil mulheres em Queimadas/PB

Na Paraíba, a segunda edição da Marcha das Mulheres do Pólo da Borborema ocorreu com a participação de mais de 1.500 mulheres. O grupo percorreu mais de 10 km pelas ruas centrais do município de Queimadas, na última sexta-feira (18), denunciando a violência contra a mulher e defendendo a agroecologia. As mulheres vieram regiões do Brejo, Agreste, Curimataú, Seridó, Cariri, Médio e Alto Sertão da Paraíba e juntas gritavam as palavras de ordem “Pela vida das mulheres e da Agroecologia!”.

Inicialmente, durante a concentração ao lado da igreja Matriz, debaixo de um sol escaldante e, ao mesmo tempo, sob um mar de sombrinhas, as pessoas assistiram a apresentação da peça de teatro “A Vida de Margarida”. Nas cenas, o retrato crítico, em tom de comédia, apresentava a realidade diária vivenciada pela maioria das agricultoras familiares. Percebendo-se na reprodução dos cenários de submissão, exploração e desvalorização, mulheres, jovens e crianças riam da já conhecida violência que enfrentam cotidianamente em seus lares.

As cenas serviram de encorajamento para que Dona Terezinha (agricultora de uma comunidade do Brejo de Solânea/PB) se manifestasse, subindo ao palco e dando um depoimento emocionado sobre a experiência vivenciada por ela e sua filha dentro de casa com seu marido.

A agricultora falou de forma bastante simples e forte sobre os diversos momentos de sua vida que foi humilhada e maltratada por seu pai e seu marido. Relembrou os momentos difíceis passados ao longo de seus mais de 60 anos e sobre a preocupação que tinha sobre a formação de sua filha (Maria do Céu), atualmente militante do movimento, estando no momento ao seu lado no palco. Relatou ainda sobre a importância de processos, como aquele, de formação e luta, para garantir a libertação da opressão dos homens sobre as mulheres.

Além de Dona Terezinha e de sua filha Maria do Céu, outras mulheres no decorrer da marcha se sentiram motivadas a dar mais depoimentos sobre experiências vivenciadas de violência, preconceito e marginalização. “São depoimentos como estes que contribuem para o fortalecimento de outras mulheres camponesas violentadas diariamente nas comunidades rurais e nas cidades. Elas não encontram espaços públicos onde possam fazer denúncias, nem encontram outros meios para se defender ou se abrigar. O que buscamos com a Marcha é isso: fazer a denúncia desses crimes silenciados. Defendemos uma agricultura familiar camponesa sem agrotóxico e sem o sangue das mulheres!”, afirma Roselita Vitor, representante do Polo da Borborema.
Vários movimentos sociais e outras organizações marcaram presença durante a marcha. Dilei Aparecida, representante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), na Paraíba, comentou sobre a importância da ação para o desenvolvimento da agricultura familiar camponesa: “Essa marcha representa a soma de um esforço coletivo que foi construído nos municípios. Acho que é uma questão muito relevante na agricultura familiar hoje, que expressa um outro modelo de agricultura que nós sonhamos “.

Na chegada ao Clube Blitz de Queimadas, ponto final da marcha, uma feira de artesanato de produtos locais intitulada Um jardim de Margaridas, passou a ser a atração das marchantes.  Roupas, bonecas, enfeites e peças com bordados e detalhes típicos das regiões presentes. Comidas e bebidas com o sabor da comida caseira do interior, tudo feito com produtos agroecológicos e produzidos com o carinho e conhecimento das agricultoras camponesas da Paraíba. Devido ao extremo calor, um dos produtos mais apreciados da feira foi a mouse de umbu, doce, gelado e com um sabor azedinho delicioso, produto encontrado na maioria das barracas no local.

Dentre as falas que recepcionaram as marchantes, Maria da Glória, coordenadora da ASA-PB e representante do Estado na Coordenação Executiva da ASA Brasil, destacou a beleza daquele momento e ainda relembrou a importância da realização da segunda marcha para combater a violência contra as mulheres no campo e na cidade e pela Agroecologia: “Esse momento está sendo muito bonito. Mais de 1500 mulheres marcharam em defesa de um novo modelo de desenvolvimento, fundamentado na Agroecologia. Estamos, em mais um ano, denunciando a violência vivenciada por muitas mulheres do campo e da cidade, que são violentadas das mais diversas formas. Daí é importante afirmar que para a Agroecologia se consolidar como um novo modo de vida, é fundamental a consolidação de relações mais harmônicas com a Natureza e com a sociedade. Assim sendo, a Agroecologia só se tornará um modelo para a ação libertadora das camponesas e dos camponeses se for baseada em relações que buscam a superação das desigualdades sociais entre homens e mulheres. Lutamos pela Convivência com o Semiárido. Lutamos pelo fortalecimento da Agricultura Familiar Camponesa Agroecológica. Lutamos pelo fim da violência contra as mulheres. Lutamos pela vida das Mulheres e da Agroecologia!”.


 
Patrícia Ribeiro
Comunicadora Popular
PATAC
22/03/2010

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